Vai parecer uma generalização barata? Talvez…
Nos últimos dias, estive enfrentando um dilema profundo que exigiu de mim um exercício de respeito.
Respeito, pra mim, é isso: Olhar duas vezes pra si, uma vez sob a ótica do mundo e outra sob a perspectiva do que você sente — ou consegue perceber — a respeito de si mesmo.
E nesse processo, percebi algo incômodo: ninguém realmente espera sensibilidade ou expressividade de um homem. Às vezes até exigem isso… mas ninguém espera.
Sim, eu sei que essa fala pode parecer machista. Mas respira fundo e segue até o fim.
Eu sou o tipo de cara que não se incomoda em se expressar conforme o estado de espírito permite.
Tem dias que sou mais feminino. Tem dias que sou mais masculino.
No passado, isso gerava desconfiança. Descobri que as pessoas da minha convivência discutiam sobre a minha orientação sexual.
No começo, fiquei constrangido. Depois, comecei a pensar: será que eu estou reprimindo a minha sexualidade?
E sim… estava. Mas não porque eu estava “no armário”. Estava reprimindo porque não fazia ideia da força que existia na minha energia sexual.
Em algum ponto da caminhada, entendi que a energia feminina se expressa em homens, assim como a masculina também se expressa em mulheres.
Não é anormal. É natural.
Desde então, passei a me permitir viver a energia que estivesse presente em mim.
E curioso… isso fortaleceu de forma intuitiva a paridade yin-yang nos meus relacionamentos e me tornou mais excêntrico.
Fui puxando esse fio. Revendo conflitos do meu passado e então percebi um padrão.
Sempre que eu agia movido pela necessidade de me expressar, eu gerava conflito. Sempre que havia autoafirmação demais, vontade de provar alguma coisa, a coisa ficava tensa.
As brigas mais feias que tive na minha família nasceram disso. E foi mergulhando nisso que percebi algo interessante: as pessoas mais respeitadas da minha família são discretas.
Não se abrem, não verbalizam suas emoções. São vistas como frias. Misteriosas.
E claro: se ninguém sabe o que se passa ali, ninguém tem como se posicionar contra ou a favor. Não tem atrito… apenas mistério.
Apesar disso, essas pessoas são leves, praticam atividades sensíveis como jardinagem, poesia…
Continuei puxando o fio…
Na última discussão que tive com a minha companheira, ela me disse que eu precisava ter mais cuidado — e mais noção — sobre o que falo e como falo.
Respondi que moldar o que sou para me adequar às normas do coletivo seria uma forma de me reprimir — e que isso, sim, destruiria nosso relacionamento.
Na mesma hora, lembrei de um fenômeno bizarro: homens que pagam garotas de programa só pra poder desabafar. Contar problemas. Serem sentimentais, sensíveis.
Muitas dessas mulheres relatam que esses caras são com elas o que não conseguem ser dentro de casa.
Liberdade é poder se expressar sem medo de ser quem se é e isso não envolve apenas o lugar certo e o horário certo. Isso envolve a capacidade de expressar em sua máxima potência…
Ela se manifesta na experiência individual. Dentro de um perímetro que você é capaz de responder e aí sim, entra a hora certa e o lugar certo.
Pode parecer contraditório, ou confuso, eu sei… mas isso tem muito a ver com aquilo que Kant disse sobre liberdade ser fazer o que não se quer.
Eu não quero ficar calado, mas escolhi o silêncio pois o que está dentro de mim pode ser melhor expressado. Ela se manifesta quando eu estou no meu melhor — e o meu melhor, muitas vezes, é quando estou escrevendo.
Escrevendo, eu me permito ser sensível. Ser sincero. Ser intenso. Sem esperar compreensão, sem temer julgamento ou me podar.
Ao escrever, ajo com responsabilidade. Porque entendo que o outro não é obrigado a me ver como um homem sensível — nem a ouvir o que ele vai chamar de “baboseira”.
As pessoas estão cansadas. Elas não ligam pro que um homem como eu tem a dizer. E foi aí que eu entendi que eu também não preciso ligar pro fato delas não ligarem.
E se eu for contra isso, vou gerar conflito e frustração, o que vai cessar o meu potencial de expressar com liberdade aquilo que está dentro de mim.
E foi por esse fator que eu cheguei à afirmação de que homens maduros são reservados.
Não é que eles não se expressam… eles só fazem isso quando têm o poder — seja em um momento de introspecção, escrevendo, tocando violão ou no bar com os amigos.
É claro que expressar seus sentimentos como um descarrego carnal, pelo bel prazer como fuga da dor, não é sinal de maturidade. Muito menos reprimir os seus sentimentos.
Eu não estou falando disso. Estou falando sobre escolher conscientemente como expressar o que está dentro e fazer isso de modo a manifestar a sua máxima potência.
Poder e liberdade são estados de consciência.
Estados que só se manifestam quando o indivíduo para de negociar com o mundo externo aquilo que só pode ser conquistado internamente.
A liberdade não está em falar tudo o que pensa. Está em saber o que faz sentido dizer, quando, para quem… e, principalmente, se vale a pena.
O poder não está em impor a própria verdade. Está em sustentá-la, mesmo que ninguém mais acredite nela. Isso não envolve a capacidade de sair discursando por aí, mas sim de se manter em silêncio e desfrutar do êxtase que a livre expressão individual e pessoal é capaz de promover.
É sobre gerar valor e potência a si mesmo. É sobre digerir insights e usá-los para transformar, silenciosamente, a realidade de acordo com a Sua Vontade.
Homens maduros são reservados não porque têm medo de se expressar — mas porque aprenderam que o mistério e o silêncio geram valor e empoderam mais do que a necessidade constante de se explicar.
Aprenderam que nem todo sentimento precisa ser verbalizado, e que a presença, quando íntegra, comunica mais do que mil justificativas.
Perceberam que dar nome a tudo o que sentem, às vezes, empobrece a experiência — e que existem coisas que só fazem sentido sendo vividas, não ditas.
Homens maduros são reservados porque sabem que a verdadeira força não grita, não se exibe, não precisa de aplauso. Ela se sustenta no invisível, no que é íntimo, no que é real demais para ser compartilhado com qualquer um.
Eles não se calam por fraqueza, mas por sabedoria.
Sabem que se expressar é um direito — mas se preservar… é uma arte.
Espero que essas informações tenham sido úteis.
Um forte abraço e até a próxima.


