Estava na casa de alguns familiares e ouvi na televisão a voz do William Bonner anunciando em tom desolador: “avança o desmatamento na Amazônia em terras indígenas e é grave a violência provocada pelo garimpo” (algo assim).
Logo que ouvi isso, me lembrei de algo que venho pensando há algum tempo e que não compartilhei por motivos óbvios: as pessoas não estão prontas para “realidades paralelas” sobre esse assunto.
O que eu vou contar agora faz parte do meu processo de construção perceptiva acerca desse assunto.
Não considere nada disso como verdade absoluta (nem eu vejo assim). Nosso objetivo aqui é explorar as possibilidades, não as probabilidades, para encontrar um sentido maior que realmente faça a diferença em nossas vidas.
Minha percepção sobre a questão Amazônia não é sobre dizer o que está certo e o que está errado.
O foco é ampliar as parcialidades para que, juntos, possamos encontrar o caminho da neutralidade.
Um breve contexto…
Primeiro vamos voltar em 2022, quando morei em Coroa Vermelha na Bahia, região conhecida como “paraíso dos Pataxós”.
A região é muito conhecida pelos atrativos relacionados à cultura indígena.
E aí, conversando com moradores e investidores imobiliários da região, ouvi a seguinte história:
O governo devolveu uma grande parte daquelas terras para os povos indígenas.
Naquela época, lá em Coroa Vermelha o mercado imobiliário estava aquecido.
A história que rolava era a seguinte:
Tinha duas formas de comprar um lote/casa lá. A primeira era comprar imóveis não pertencentes aos povos indígenas, que eram mais caros, mas eram seguros, pois tudo é feito dentro dos conformes, de maneira regularizada.
Isso protege os proprietários de possíveis invasões.
Outra forma, beeem mais barata, é comprar imóveis nas terras indígenas.
O problema: segundo relatos, tudo gira em torno de um acordo verbal com o cacique e as lideranças locais.
Se eles aprovam, ninguém mexe.
Mas há o risco de você construir sua casa e um dia, ao retornar de uma viagem, por exemplo, ter alguém morando lá.
Ou seja, mesmo você comprando, legalmente a terra não é sua (não tem escritura, não tem nada).
Até aí beleza… Guarda essa história.
Agora voltemos para 2025.
Há alguns meses eu fiquei uns 15 dias lá no Amazonas, mais especificamente em Manaus e no que parecia ser sua “zona rural” (não sei se pode ser chamado assim).
Na primeira semana, turistei mais pela cidade e atrativos mais próximos. Conheci um pouco da história de Manaus, os principais desafios, desigualdades, etc.
Entre os relatos, ouvi alguns que me lembraram bastante os negócios imobiliários no paraíso dos Pataxós.
O que eu ouvi foi que grandes porções de terras demarcadas (que eu não visitei e dificilmente um turista comum vai visitar) estão sendo vendidas pelos próprios povos da região para fins extrativistas (senrigais, garimpos, madeireiras e todos aqueles problemas que a mídia compartilha).
Presta atenção. Nada aqui sou eu que estou falando, ok? Eu ouvi de pessoas que moram lá e que já tiveram experiências em comunidades na Amazônia profunda.
E olha só: eu não estou militando (nem vou) e também não estou falando “a verdade”, estou contextualizando sobre como eu construí a percepção que eu vou compartilhar com vocês.
O que rolou é o seguinte: quando eu ouvi a história do Amazonas, eu logo associei à história na Bahia.
Mas na Bahia a violência por questões territoriais não é como no Amazonas, pelo menos não é noticiado como é na Amazônia, e isso me ascendeu algumas reflexões.
A primeira, é claro, tem relação com o holofote midiático, que me parece ser intencionalmente apontado para certos assuntos.
Mais o mais intrigante é o seguinte…
Se eu tenho uma casa construída lá em Coroa Vermelha em um terreno indígena e encontro alguém morando lá, o que me resta fazer?
Resposta: depende.
Se eu não tiver nenhum poder, eu posso tentar conversar com o cacique, mas esse é meu máximo.
Agora, se eu tiver grana, poder bélico, jagunços e influência política, o que eu poderia fazer?
Tão entendendo onde eu quero chegar?
Sensação estranha…
Lá no Amazonas eu senti uma sensação estranha que me fez pensar que o que acontece lá é quase a mesma coisa, porém motivada por uma atividade econômica muito mais valiosa.
Mais do que isso, essa realidade me levou a pensar que o padrão é o mesmo desde sempre, só que com uma estrutura institucional mais robusta.
Eu sei que o que é extraído ali é valioso, mas acho que mais valioso ainda é o domínio (camuflado) sobre aquela região, assim como fizeram na época do descobrimento lá na Bahia e em outros territórios pelo mundo.
Ao conversar com pessoas que foram em locais mais remotos da Amazônia profunda, a impressão que eu tive é de que a lógica do que acontece ali é a mesma do escambo.
Também me chamou a atenção, alguns relatos de que ONGs, indústrias e até mesmo organizações governamentais participam desse processo de maneira velada.
Mais do que isso, segundo o que eu ouvi, muitas dessas organizações são as mesmas que participam de eventos internacionais em prol da Amazônia.
Muuuito estranho, afinal, isso me despertou uma ideia perigosa: ao contrário das narrativas, aquilo ali aparentou ser uma gigantesca, mas sutil, obra de engenharia.
Outro ponto que me chamou a atenção foram relatos que apontavam para a quantidade de pesquisas científicas não divulgadas que rolam naquela região.
A sensação que eu tive ali é que tudo tem algum potencial de extração, além de ser rota de entrada e saída de todo tipo de coisa ilícita.
E aí entramos no terceiro tópico…
Existe um conceito na economia comportamental que se chama Ancorgagem.
A ancoragem descreve como a primeira informação que uma pessoa recebe atua como uma referência inicial, ou “âncora”.
Mesmo que essa informação seja aleatória ou irrelevante, ela influencia fortemente os julgamentos e decisões posteriores. Por exemplo, essa âncora pode afetar a percepção de um preço justo, levando a avaliações e escolhas que não seriam feitas de outra forma.
Em outras palavras, falam de um problema, limitam ele a um fato e toda a sociedade ignora a complexidade da coisa, permitindo que os “gestores” desse problema consigam operar de maneira sutil para perpétua-lo de maneira bem mais complexa que a capacidade perceptiva das pessoas é capaz de processar.
Sinceramente, eu achava que o problema da Amazônia era específico ao que compartilham na mídia, mas a real é que tudo isso só serve de ancoragem para algo que vai muito além.
“O problema da Amazônia” vai desde a formação do estado e das instituições. Olhando “por cima” é possível notar como a cidade de Manaus foi construída de modo a “dar as costas” para a sua origem, a sua natureza.
É muito interessante como o contraste entre povos originários, civilização e povos ribeirinhos aponta para um conjunto de relações sutis que evidenciam uma tendência de conflito, colapso e problemas que “empoeiram” a percepção sobre o problema da amazônia.
Enquanto a poeira tá alta, não se sabe o que acontece lá dentro.
O mistério, quando cai na zona do conformismo, se limita aos problemas “âncora” e ocultam a verdadeira face do que acontece ali.
O que eu percebo…
Toda essa história não foi contada para falar sobre a amazonia… foi contada para falar sobre você.
Quero que você reflita sobre o que sentiu enquanto lia esse texto.
Talvez você tenha ficado estável, mas há pessoas que tenderiam ao surto emocional pois a possibilidade que eu compartilhei aqui vai contra uma luta cuja abrangência vai muito além das questões socioambientais.
A sociedade está inflamada por uma teia de problemas que convergem para um ponto em comum.
Estamos ancorados em problemas que não possuem solução, afinal, em sua cerne, apesar da evolução “estética” do problema, ele permanece o mesmo.
A humanidade está sendo constantemente estimulada a um estado de guerra contra sua própria natureza e os viéses cognitivos (como a ancoragem) só nos afastam do “grande problema” que é esse distanciamento da origem.
O mundo moderno e seus problemas são apenas uma camada insolucionável sob o viés da mente parcial.
A consciência é a única chave para a liberdade que tanto buscamos, liberdade essa que se relaciona profundamente com a solução de tudo que destrói o mundo que vivemos.
Eu não teria uma percepção tão ampla, se comparada com a minha percepção anterior, se eu não tivesse ido lá, presenciado os sinais coerentes com o discurso daquelas pessoas que moram lá.
Quando eu vejo o discurso comum, vejo pessoas deslocada de si mesmas, como se uma consciência alheia estivesse agindo como observador e influenciador de estados psicológicos.
Tudo isso motiva diferentes escolhas que não afetam apenas o ecossistema, mas sim a nossa realidade individual, aquilo que tanto buscamos defender sob o pretexto de estarmos agindo em nome de uma causa “maior”.
O problema da Amazônia não revela um problema grave do mundo, revela um problema grave em cada um de nós que se torna a causa de todos os problemas.
Não adianta entregar as terras para os povos originários, não adianta prender todos os garimpeiros, se a mentalidade coletiva e individual permaece doente, perdida em tantas parcialidades, em um mundo que exige de nós um esforço continuo para evitar aquilo que faz parte da nossa natureza, da nossa manifestação: o equilíbrio, a ordem.
O caos é necessário para a manifestação (que é sintrópica), mas o caos estimulado na mente coletiva, se torna um meio para a manifestação de uma realidade cuja prosperidade e abundância se torna disponível para os poucos que são capazes de conciliar ordem e caos.
E é justamente isso que eu proponho aqui: conciliação.
Conclusão
No fim das contas, todas essas histórias que eu contei, da Bahia, do Amazonas, dos relatos que ouvi, não foram sobre terras, negócios ou garimpo em si. Foram metáforas.
Usei esse contexto narrativo como espelho pra mostrar que o padrão que se repete fora é o mesmo que se repete dentro da gente: conflitos, interesses, ilusões, acordos frágeis, exploração disfarçada.
A crítica que fica é simples: enquanto a gente olhar só pro problema que jogam na nossa cara, nunca amos enxergar a engenharia.
A mídia, as instituições, os discursos… tudo isso pode até apontar pra uma parte da história, mas raramente mostra a lógica mais profunda que está por trás.
A Amazônia não é só a Amazônia. Ela é o retrato da nossa própria mente quando vive na parcialidade. Perdida, manipulável, presa em narrativas.
Como eudisse, se a gente não encara isso, não adianta mudar lei, devolver terra, prender culpado. O problema continua o mesmo porque nasce da nossa forma de perceber e de nos relacionar com a realidade.
Por isso, quando falo em conciliação, não é papo bonitinho de paz mundial. É sobre neutralidade real: reconhecer os opostos e entrar no fluxo que sempre tende ao equilíbrio.
Essa é a única forma de quebrar o ciclo, dentro e fora.
Espero que essas informações tenham sido úteis.
Até a próxima!
Luiz, do Fora de Senso.



Faz todo sentido,parece que vemos as coisas com um mesmo ponto de vista.
Aqui onde moro, é fronteira com mais dois municípios.E o descaso dos órgãos públicos é total,pois vários direitos básicos e essenciais nos são negados.
As ruas não são asfaltadas e o pior é que os órgãos públicos responsáveis por urbanização,saneamento,”Prefeitura”.Alegam que essa área é saneada.kkkkkkkkk
Eu era criança, hoje sou um homem,38 anos de idade e nada muda nesse lugar.
Como falei que aqui é uma área não saneada.As encostas dos morros não tem contenções,as águas das casas de cima deságuam no meio dessas encostas e consequentemente acontece os deslizamentos que é de se esperar.
A Defesa Civil,um órgão responsável por fiscalizar essas áreas não estão nem aí pra população que mora nessas áreas.Acredito que se durante o verão fizessem essa manutenção adequada nessas encostas muitos deslizamentos seriam evitados e vidas não teriam sido perdidas.
Quando o inverno chega nem lonas plásticas eles colocam para amenizar.Que por sinal é só um paliativo,barato.Plástico!!!
Só que o aumento populacional principalmente nessas áreas é desordenado e com isso faz com que as pessoas não tenham um lugar adequado para construir uma casa pra sua família e buscam essas encostas, barreiras,morros,altos,taludes como queiram chamar.Daí então,a Prefeitura manda a Defesa Civil,obrigar os moradores saírem de suas casas como forma de prevenção, interditando-as e dão um auxílio aluguel que nem cobre com os custos de um aluguel.E quando as pessoas se recusam sair de suas casas eles usam da força e todos os recursos possíveis para expulsar o cidadão.”há,mas constrói na barreira porque quer”.É o quê alguns comentam.Sera?Que é,por que querem mesmo?
Mas atento aos fatos me questiono de várias formas e chego a uma conclusão de que esse caos é proposital.
Como que vão fazer licitações de obras superfaturadas com empresas fantasmas pra desviar dinheiro público que são destinados justamente pra essa obras?
Eu respondo. Negligenciando o problema.
E só quem tá desperto consegue enxergar que o buraco é mais em baixo.Tanto é que o Ministério Público abriu investigação contra o prefeito daqui de Recife, João Campos,que gastou milhões em campanhas e festivais pra se promover e as obras nada.Por isso me sinto inconformado,respondendo aquela pergunta que você fez diante minha situação ao redor com eu me sentia.E questionei também quando você pediu para perguntar algo.
Se o sistema não dá nada pra gente qual o direito que ele tem de nós tirar?.
As vezes converso com uns colegas e eles não conseguem acompanhar meu raciocínio e fico como incompreendido sendo que,quem não compreende são eles.Pois só enxergam o superficial.
Muito massa essas enquetes que você faz,pelo ao menos sei que não sou maluco nem estou delirando.kkk😂
🤝
Obrigado compartilhar irmão!! Lamento por essa situação, e é isso aí, continue sempre no “além”. AS pessoas não vão te entender, e nem precisam. Só você precisa ter lucidez quanto a sua verdade. Tamo junto.