No final de 2024, comecei a ler o livro “Crepúsculo dos Ídolos” de Friedrich Nietzsche.
Trata-se de uma leitura tão rica que comecei a ler há quase um mês e ainda não passei do 5º capítulo.
Já li cada capítulo umas 3x, mas não porque é difícil, e sim porque por detrás da elegância e do senso de humor diferenciado do autor, há um grande desafio:
Nietzsche parece, a todo momento, contradizer todos os meus anos de estudos e dedicação, tudo que eu fundamentei na filosofia OutSense.
Dá um frio na barriga enorme ler isso, porque no fundo eu me sinto em uma linha tênue entre a verdade e o autoengano.
Uma parte de mim, vê Nietzsche como uma ameaça
Apesar disso, há outra parte que sente algo diferente.
Ao mesmo tempo que Nietzsche parece ser uma ameaça a tudo que desenvolvi nos últimos quatro anos, ele me soa como uma demonstração de que o que eu construí está compatível com minhas expectativas.
E não porque eu discordo de Nietzsche, mas porque todo o trabalho que desenvolvi foi buscando a linha tênue entre as dualidades impostas à sociedade.
Buscar essa linha tênue foi o que resultou nessa teoria que elaborei – uma teoria que ainda está em construção, ainda em elaboração, mas que já está consolidada na minha mente.
Claro que, como o próprio Nietzsche disse, não se pode confundir causa e consequência. A teoria não é uma consequência da ansiedade do meu pensamento.
Na verdade, a tenuidade do meu pensamento é que é uma consequência de outra coisa (como veremos a seguir).
Bem, eu poderia muito bem parar de ler Nietzsche pelo simples fato de que ele contradiz a minha verdade.
Afinal, nos três, quatro primeiros capítulos que li, basicamente ele confrontou certas coisas que acredito ser verdade. E eu poderia, de fato, parar de ler.
Mas, em determinado momento, ao reler esses capítulos três, quatro vezes repetidamente, percebi que, na verdade, não era bem assim. Na verdade, como eu disse anteriormente, ele representa a tranquilidade do meu pensamento.
E o que isso significa?
Significa que, a todo momento, eu estava em um conflito interno entre o autoengano e a verdade, mas não porque eu tenho algo a perder, e sim porque eu escolhi estar nesse lugar.
O medo de estar errado, o medo de ser confrontado em minhas verdades, poderia muito bem me levar a desistir de continuar.
Eu poderia simplesmente parar de ler, jogar o livro num canto do escritório e nunca mais olhar pra ele.
Porém, eu persisti. Reli várias vezes até entender que aquilo representava muito mais do que uma contradição à minha verdade. Representava, na verdade, um exercício da minha verdade.
Coerência em Ser
Quando leio algo e esse algo se manifesta em um padrão de tenuidade – de nenhum nem outro, de neutralidade –, eu estou nada mais, nada menos, do que sendo coerente com aquilo que me dispus a ser.
Ao embarcar nessa jornada de estudos, ao escolher ler uma literatura mais avançada, mais complexa, eu me propus a isso. E, no fim, isso é completamente compatível comigo. Compatível com a minha verdade.
E, ao me conectar com a minha verdade naquela literatura, eu fui capaz de transcender o padrão dual da mente, que está sempre buscando o certo e o errado, e isso me permitiu me conectar com o autor na verdade dele.
Em outras palavras, eu não utilizo a verdade dele para justificar a minha, que é basicamente o que acontece na maioria das vezes quando lemos um livro.
A gente escolhe um livro porque quer nutrir a nossa própria verdade com aquilo que está nele.
Procuramos o autor que seja compatível com o que acreditamos, ou até mesmo um autor que, por mais que confronte nossas ideias, sirva para reafirmá-las.
Por exemplo, uma pessoa de direita conservadora lendo Karl Marx.
Por que essa pessoa leria Karl Marx?
Para entender sua teoria e refutá-la com maior qualidade. Nesse processo, perceba o padrão dual da mente em ação.
Transformando o comum em extraordinário
Quando transcendi esse padrão dual na minha leitura, tive uma experiência literária muito mais verdadeira.
Conectei-me profundamente com o autor, e essa imersão tornou a leitura muito mais rica, permitindo maior absorção e entendimento.
Uma leitura complexa, que tinha tudo para “aniquilar a minha verdade”, se tornou simples e integrada a ela.
Isso foi possível porque não estou lendo esse livro com o objetivo de chegar a uma conclusão específica, de decidir entre certo e errado, bem ou mal, sobre a obra ou o autor.
O mais interessante de tudo isso foi perceber que, ao unir a minha senciencia – ou seja, o que eu sentia durante a experiência de leitura – com minha ciência – o que eu conseguia interpretar dessa experiência –, deparei-me com uma consciência maior.
Essa consciência me revelou que a leitura não era algo que me colocava em oposição ou me deslocava de um eixo de equilíbrio, mas algo que representava a transcendência da minha percepção a um novo patamar, o que me permitiu transformar uma experiência “normal” em algo completamente novo e inspirador.
Quando assumimos parcialidades, nos deslocamos desse eixo de equilíbrio.
Ao nos opormos a algo, transformamos aquilo que é parcial em um novo ponto de equilíbrio. Porém, nesse tipo de equilíbrio, não há integração, e sim divisão. Ele cria uma simulação da verdade que nos impede de experienciar a verdade em sua essência.
Não sei ao certo o quanto você está conectado ao projeto fora de sento, mas tudo que eu falei aqui nos artigos anteriores deste Blog, sobre propósito, sobre emoções, sobre a verdade e todo o resto, tudo isso está interligado com essa experiência que eu estou tendo ao ler esse livro.
Não seria mais extasiante viver uma verdade que não pode ser defendida? Não seria mais motivador viver um propósito que não pode ser alcançado?
Com esse texto, eu não quero deixar para você uma conclusão… mas sim uma reflexão.
A “graça” da vida não estaria em transformar experiências comuns, em experiências extraordinárias?
Espero que essas informações tenham sido úteis.
Até a próxima!
Luiz, do Fora de Senso.


