Não é difícil notar que a sexualização da sociedade, desde o período de amadurecimento da mente e do corpo, tem gerado impactos significativos na cultura, na moral e em vários outros aspectos da realidade.
Historicamente, a forma como a sociedade trata o sexo apresenta implicações profundas e sutis na capacidade dos indivíduos de se empoderarem, realizarem suas vontades e viverem uma vida mais próspera e abundante.
Não é segredo que uma sociedade que atinge tal nível de liberdade e equilíbrio não interessa a diferentes níveis da estrutura de poder que controla o mundo.
A prosperidade e a abundância, embora estejam potencialmente disponíveis para todos, são “frequências” acessíveis apenas a poucos.
Essa limitação ocorre tanto por barreiras pessoais – como falta de autoconhecimento e de equilíbrio emocional – quanto por fatores externos que mantêm a maioria subjugada a sistemas de opressão.
Viver em um mundo em que a injustiça e a desgraça predominam representa um grande desafio para os indivíduos comuns.
Nessa realidade, as potencialidades humanas, especialmente a energia sexual, são frequentemente distorcidas e mal compreendidas, criando ciclos de estagnação e desconexão com o propósito maior.
Por isso, compreender a energia sexual em seus aspectos mais sutis pode ser um divisor de águas nessa condição.
Este estudo foi realizado com o propósito de trazer mais senciência (a capacidade de sentir) e ciência (a capacidade de conhecer e interpretar) ao leitor.
Ao incorporar isso a nível de consciência, a energia sexual poderá ser usada de forma mais responsável, transformando-se em um instrumento poderoso para acessar novos patamares de liberdade, realização e harmonia.
Primeiramente, exploraremos o sexo enquanto conceito e, ao longo do texto, abordaremos as diferentes facetas de sua manifestação na mente comum: seu papel, seu modo de ser sexual e o sexo enquanto ato.
Por fim, reuniremos as peças desse estudo para explicar como esses elementos afetam a nossa realidade individual e coletiva, apontando caminhos para transformar nossas percepções e experiências por meio do poder intrínseco dessa energia.
Vamos falar sobre sexo
A palavra sexo tem origem no latim sexus, que designava tanto o gênero masculino e feminino quanto a distinção entre eles.
A raiz da palavra, sex-, está relacionada a conceitos de divisão ou separação.
Com o tempo, o termo sexo evoluiu para abranger significados mais amplos, incluindo as características biológicas, psicológicas e sociais que distinguem os indivíduos como masculinos ou femininos.
Na Idade Média (476 E.C. a 1453 E.C.), o termo começou a ser associado também à atividade sexual, e é nesse sentido que ele é amplamente utilizado hoje.
Caso tenha interesse em se aprofundar, é legal estudar um pouco do que aconteceu na idade média.
A forma como o ser humano começou a tratar o sexo, tem profunda relação com as transformações que ocorreram desse período em diante.
Alguns exemplos dessas importantes transformações são:
- Consolidação do Cristianismo como força política e cultural (impacto na ética e moral)
- Fortalecimento do feudalismo na Europa (impacto nos sistemas social e econômico).
- Crescimento populacional e econômico, baseado no que foi estabelecido nos dois tópicos acima (impacto na complexidade social e política)
- Surgimento das primeiras universidades na Europa (impacto nas artes, na filosofia e na ciência).
Os eventos dessa época foram um marco para as transformações culturais, sociais e econômicas que impulsionaram o longo, complexo e duradouro movimento de transição para a Idade Moderna.
Particularmente, vejo que a forma como o sexo é tratado hoje tem uma profunta relação dialética com a maneira que passaram a tratar o sexo na idade em questão.
A visão religiosa predominante, por exemplo, restringia o sexo ao casamento e apenas ao propósito da procriação.
Qualquer ato desvinculado dessa finalidade era considerado pecado, como relações fora do casamento, masturbação ou práticas “não naturais”.
Mesmo dentro do matrimônio, o prazer sexual era visto com desconfiança, e confissões e penitências eram comuns para lidar com esses “erros”.
Na mesma época, em comunidades rurais, práticas como o sexo pré-marital eram toleradas, especialmente se levassem ao casamento.
Bordéis eram regulados em várias cidades, sendo vistos como um “mal necessário”.
Além disso, festas e rituais populares frequentemente escapavam ao controle da Igreja, permitindo maior liberdade sexual.
Mulheres e homens também enfrentavam uma relação complexa com a sexualidade.
A virgindade era altamente valorizada, mas, ao mesmo tempo, a mulher era vista como uma fonte de tentação, associada ao pecado.
Nos homens, a virilidade era amplamente exaltada.
Isso incluía atributos como força física, coragem em combate (especialmente entre os nobres e cavaleiros), capacidade de liderar e prover, além da habilidade de proteger sua família e terras.
Consegue perceber como a percepção relacionada a uma ótica materialista, justificada por uma ótica espiritualista criaram a tese necessária para o que estamos vivendo hoje?
As diferenças fazem parte de um mesmo conjunto, mas apenas com “sinais invertidos”.
Assim como hoje, o sexo na Idade Média era profundamente condicionado pelas regras morais de uma instituição “maior”, mas na prática mostrava resistências e transgressões, o que levava a uma tensão constante entre o ideal pregado pela Igreja e a vivência cotidiana das pessoas.
O que se passava na mente da criança sensível capaz de transformar a realidade com o poder da mente? Ou que preferiam a arte, ao invés da guerra?
Muitas vezes eram condenados, e tinham que se rebelar contra a família e os direitos para não sofrer uma vida de duras penas.
O mesmo acontecia com mulheres que não exerciam “sua função”.
Se pararmos para observar, nós aceitamos essa realidade passada antes de rejeitá-la e, por isso, que ela ainda é uma tese a ser contrariada, no sentido dialético.
A institucionalização do sexo
Hoje, como na Idade Média, há instituições e grupos que buscam moldar comportamentos sexuais com base em valores específicos, muitas vezes ligados à religião ou a padrões sociais tradicionais.
Da mesma forma, existe uma crescente de grupos que desafiam essas normas e promovem a diversidade sexual.
Além disso, questões como o controle sobre o corpo, as normatizações e os papéis sociais mostram que a sexualidade é e sempre foi um campo de disputa, onde se confrontam o desejo de controle por parte de instituições e a busca por autonomia individual.
Essa relação conturbada mostra como a questão da sexualidade é usada para gerar tensões sociais, políticas e culturais, sendo tanto um campo de repressão quanto de expressão e transformação.
Mas como eu disse anteriormente, sinto que essa dinâmica exista pura e simplesmente para criar uma realidade a ser contrariada.
A história parece se repetir, mesmo com a interface, os personagens e as épocas se alterando.
O papel do sexo
Se lembra que o sexo, enquanto etimologia, tem o sentido de separação e divisão?
O sexo para mim, é a energia que manifesta o plano inferior. É a transa primordial que ocorre entre a energia do amor (vontade) e a energia do sexo (satisfação) que se manifestou a existência de tudo que é vivo e não-vivo.
Na minha visão, é através do sexo que utiliza-se a energia da criação como matéria prima para provocar a manifestação e transformação de tudo que está contido no plano inferior.
Veja só:
Tudo que é criado, assim foi pois há uma energia primária que foi modelada até assumir uma forma imperfeita no plano inferior.
A forma imperfeita assim é, pois se não fosse, não haveria movimento e transformação para manifestar tudo que existe.
A energia criadora é o amor, cuja função é a Vontade.
Essa energia criadora não se refere a um princípio, mas sim a um meio de manifestação.
Esse “meio” se refere tanto à qualidade, posição ou valor, quanto à designação de algo que está no “meio” de dois pontos, no “centro” ou que é “intermediário”.
Então a energia criadora é um eterno momento que torna tudo que existe possível.
E enquanto essa luz ilumina o universo de possibilidades, há “algo” que utiliza essa energia em um processo alquímico de transmutação do plano inferior.
Esse algo é uma força mental que, na minha visão, tem uma profunda relação com o conceito de “Demiurgo”.
O demiurgo é um conceito presente em diferentes frentes filosóficas representando um princípio criador do mundo material.
No platonismo, o conceito é apresentado em uma analogia a um artesão benevolente que organiza o caos em um cosmos harmonioso com base nas Formas ideais.
Em algumas linhas de pensamento do gnosticismo, o demiurgo é visto como um criador imperfeito e ignorante, associado ao sofrimento e à prisão espiritual do mundo material, em contraste com a divindade suprema transcendente.
Como eu disse, vejo essa “mente” como uma possibilidade de manifestação neutra, ausente de julgamento, que apenas faz por uma vontade superior, seja ela ignorante, ou benevolente.
O demiurgo pode se manifestar como Platão disse, mas também pode ser como diz o gnosticismo.
Para mim, o demiurgo faz parte do processo mental e pode se manifestar como um ser supremo da elite global, ou um pai de família.
O demiurgo é um padrão mental, dotado de polaridade positiva e negativa, que utiliza a energia da criação (divina) para manifestar o plano inferior.
Portanto, o demiurgo é como um alquimista que, a partir da sua relação com a criação, manifesta o princípio da construção.
Então, é através do sexo que o principio da construção “transa” com princípio da criação, utilizando-o como matéria prima para provocar a manifestação e transformação de tudo que está contido no plano inferior.
Assim como a função do Amor é a Vontade, a função da construção é a Satisfação.
Por função, entenda como o papel que algo desempenha dentro de um sistema maior.
O sexo é nome que se dá à energia gerada pelo processo mental que divide tudo em graduações opostas e correspondentes.
Tudo é mental, portanto, tudo emerge de uma relação sexual.
Essa relação tem a ver com a transa, mas não apenas no sentido de prazer x dor.
A palavra “transar” vem do latim “transigere”, que significa “acordar”, “concordar” ou “transigir”. Este termo latino é composto por “trans” (além, através) e “agere” (fazer).
Transar na minha concepção envolve a concordância entre dois seres agentes em estabelecer um conjunto de relações físicas, mentais e espirituais, para manifestar uma realidade.
Então, assim como a Construção utiliza a Criação para promover uma transformação, as pessoas utilizam, por meio da transa, a energia sexual para “acessar” essa energia criadora e manifestar uma realidade diferente.
Essa pode ser uma realidade de prazer sexual, de conquista de um direito político, ou algo que satisfaça uma Vontade Superior (que as pessoas costumam chamar de vontade de Deus).
Transar, portanto, é como um ritual de magia, um conjunto de ações práticas envolvendo intenções específicas que são movidas por um propósito maior (mas nem sempre superior).
A própria alquimia, seguindo essa ideia, é um ato sexual, que através da transa, o alquimista e as substâncias transmutam uma coisa em outra.
Esse processo reflete a dinâmica universal: a união de forças opostas e complementares para gerar novas formas e expandir a criação.
Como vimos, ao falar de sexo, entramos questões relacionadas ao poder de realização a nível inferior (espírito x matéria).
Mas agora vamos entendê-lo não apenas enquanto sexualidade, mas também como ato sexual, para aí sim entender como isso impacta na realidade coletiva e individual.
Sexualidade
No campo a sexualidade, ou seja, da qualidade do que é sexual, ou o modo de ser próprio de quem tem sexo, há uma série de distorções que podem comprometer a percepção que temos sobre nós mesmos.
Como vimos, a energia sexual parece estar sendo usada de modo a gerar algum tipo de tensão (ou bagunça) nos princípios fundamentais (tome como referência os princípios herméticos).
Com a consciência adaptada a essa “bagunça”, essa frequência passa a reverberar em todo o Ser, que passa a incorporar isso no modo de ser das pessoas.
Nesse caso, a autoconsciência pode ser levada a algum conflito relacionado a divergências entre a nossa natureza e a nossa identificação com o mundo real (moral e estética, por exemplo).
Quando o limite da autoconsciência são questões de nível inferior (espírito x matéria) há uma quebra no fluxo que pode impedir que o ser perceba o “além” da causa e do propósito mundano.
Isso pode impedir o ser de mergulhar a níveis mais profundos de si mesmo, e pode colocá-lo a serviço de sistemas que o distanciam de sua própria natureza.
Certa vez, vi uma discussão na internet voltada a uma fala do Osho que afirmava que homossexuais podem não ser capazes de ascender espiritualmente. O texto dizia:
Os homossexuais não conseguem desenvolver a sua espiritualidade ou fazem-no muito dificilmente. A homossexualidade é uma perturbação de todo o padrão de movimento de energia, pervertendo e chocando todo o mecanismo. Se a homossexualidade crescer demasiado no mundo, terão de ser desenvolvidas técnicas de meditação substancialmente diferentes. Técnicas até hoje desconhecidas, que ajudem os homossexuais a encontrar o caminho da meditação.
Osho (O Livro do Homem, pág. 94)
Isso chamou minha atenção porque o contexto da discussão envolvia um homossexual questionando a verdade da afirmação.
O “caminho da meditação” a que Osho se refere, para mim é o caminho da consciência, que na minha visão, não é unicamente espiritual, mas sim uma integração de ambos em um estado de consciência elevado.
As pessoas que têm o desafio de lidar com questões relacionadas ao sexo e ao gênero tendem a enfrentar uma jornada mais árdua em seu processo de despertar.
E a primeira distorção é atribuir a questão do despertar à espiritualidade, porque a partir da identificação, começam a surgir doutrinas e igrejas que ressoem com essa necessidade e servem como engodo.
Na minha visão, o despertar requer a busca constante pela unificação do plano inferior (espírito x matéria) na consciência individual.
É quando você estabelece uma relação de equilíbrio (ou que pelo menos tenda a isso) daquilo que se manifesta tanto da espiritualidade, quanto da materialidade (atenção ao sufixo -dade).
A energia em que as pessoas se encontram no mundo, desde os períodos mais antigos, ressoa muito mais com os conflitos espirituais e mundanos do que com o próprio processo de ascensão.
É como se a energia sexual (separação e divisão) estivesse sendo forçada por uma relação abusiva de poder que permeia toda a existência mundana.
Seres vivos e não, disputando o poder, consumindo uns aos outros para se manterem ativos, em uma interação que gera a realidade individual e coletiva.
As pessoas estão lá e cá o tempo inteiro, e pouco se preocupam em intencionar algo mais para a neutralidade, o “nem lá e nem cá”.
E isso tem tudo a ver com sexualidade, ou seja, com a qualidade e o modo de ser a nível de energia sexual.
Essa relação abusiva, tende a gerar um efeito compensatório, em que a parte oprimida tende a oprimir para que a relação de opressão se mantenha viva.
É por isso que a guerra existe, e é por isso que nunca irá acabar para a maioria dos indivíduos.
Neutralidade, consciência e sexo
A sexualidade é sim um fator que define o processo de ascensão do indivíduo.
Vale reforçar que a ascensão não é um movimento exclusivo da matéria para o espírito. Como eu disse antes, não caia no conto da espiritualidade.
Matéria e espírito são faces de uma mesma moeda: o plano inferior.
A ascensão envolve liberar o fluxo de energia entre matéria e espírito, para que isso atue como um “propulsor” da consciência individual para o plano superior (que tende à consciência pura).
Para entender melhor, podemos ver isso como um cone. Visto de cima, esse cone tem um círculo externo maior e, no centro, um ponto menor, que é sua ponta.
A ascensão, portanto, significa elevar-se a um grau de abstração tão grande da realidade inferior a ponto de estar em harmonia com a totalidade.
“Abstração” nesse contexto, envolve retirar-se da visão limitada da base do cone — onde estão os detalhes específicos e a “baguncinha” das dualidades da mente — para alcançar uma perspectiva mais universal, representada pelo topo.
Tanto a base, quanto o topo do cone são inalcançáveis, o que nos limita de olhá-lo como um todo.
Porém, ao alterar a perspectiva da nossa consciência, é possível vê-lo em sua forma padrão e inalterável (círculo com ponto no meio).
A consciência pura não está no topo, mas sim na percepção do cone por cima.
É como se o símbolo (cone visto de cima) fosse um “código” para “ativar” o sentido da neutralidade que emana da consciência pura.
O maior problema da humanidade, é perceber o cone de baixo para cima, ou seja, apenas um círculo branco que será preenchido por um processo imaginativo construído artificialmente.
Por isso a neutralidade é tão importante na jornada de despertar.
Esse movimento de abstração permite que o ser junte as fragmentações da realidade inferior e perceba o todo integrado.
Mesmo que não enxergue o cone de cima para baixo, o indivíduo terá isso em sua consciência.
Nesse nível, a multiplicidade não é mais vista como uma dispersão, mas como uma manifestação unificada da totalidade contida no cone, e isso faz uma diferença absurda na forma como interagimos com o mundo.
E como eu disse, por mais que o cone se expanda, se o indivíduo estiver no topo da ascensão, o tamanho dele não importará, pois o “código” será o mesmo.
Na verdade, isso só potencializa a sua capacidade de se relacionar com o mundo e manifestar uma realidade livre e realizadora, já que o perímetro da sua percepção será maior (leia sobre respeito e responsabilidade).
Respeito e responsabilidade não são apenas condutas morais.
O respeito não é apenas uma relação que estabelecemos com o outro, mas sim a capacidade de nos perceber em perspectivas opostas.
Isso significa perceber o que o outro percebe em relação a você e o que você percebe em relação a si mesmo(a) quando interage com o outro.
Como dizem os gurus da meditação, é integrar o observador com a coisa observada.
Que sucede quando o pensador percebe que ele é o pensamento? Que acontece, realmente, quando o “pensador” é o pensamento, assim como o “observador” é a coisa observada? Que acontece? Não existe mais separação, divisão e, por conseguinte, não há conflito; conseqüentemente, já não há necessidade de controlar ou moldar o pensamento. Que sucede então? Existe divagação do pensamento? Antes, controlava-se o pensamento, concentrava-se o pensamento, e havia conflito entre o “pensador”, que queria controlar o pensamento”, e o pensamento que queria divagar.
Krishnamurti
É muito difícil lidar com questões mundanas e espirituais conflituosas, especialmente quando é preciso lutar por direitos que se acredita estarem sendo retirados, como o direito à vida, à segurança e à liberdade de expressão.
Além disso, há também o peso das questões espirituais, muitas vezes moldadas por religiões conservadoras que condenam ou limitam determinadas manifestações humanas.
E isso tem tudo a ver com o sexo.
Não é à toa que a alienação sexual é tão útil para “os controladores do mundo”.
Um desdobramento dessa condição é a confusão gerada na questão do gênero enquanto aspecto moral e como isso distancia o ser humano do gênero enquanto questão fundamental.
Tudo que existe só é porque se manifesta a partir de um padrão dual de gênero, e essa divisão mental é o sexo.
Isso não significa que o gênero deva ser entendido apenas pelas características fisiológicas do sexo.
Essas características não devem servir como parâmetro único de definição de gênero, pois todos nós carregamos as polaridades feminina e masculina em nossa essência — aspectos que se manifestam em formas variadas, tanto mental, quanto física e espiritual.
O empoderamento do ser não se dá pela expressão moral ou estética do gênero que se julga dominante, mas sim pelo respeito e equilíbrio à manifestação das polaridades.
Você só consegue expandir sua consciência se a ciência e a senciência estiverem em níveis equilibrados, a priori, e em intensidade ascendente a posteriori.
A expansão da consciência não é um processo linear ou unilateral; ela requer o equilíbrio entre esses dois pilares fundamentais.
Os elementos da percepção, aparentemente distintos, representam dimensões complementares do desenvolvimento humano, cuja harmonia é essencial para transcender as limitações e alcançar níveis mais elevados de compreensão.
Por exemplo, uma pessoa que manifesta força e firmeza (associadas ao masculino) e ao mesmo tempo empatia e acolhimento (associados ao feminino) demonstra uma condição psicológica que vai “além” das definições tradicionais de gênero.
Provavelmente, essa pessoa terá uma maior capacidade de responder e transformar em diferentes situações.
Essa condição de “conflito” de gênero é algo pertencente ao plano inferior e pode ser superado.
O fato de uma pessoa ter nascido com o sexo feminino, mas se identificar com o sexo masculino não deve ser visto como um problema, mas como uma consequência da complexidade em que a humanidade foi mergulhada.
Essa divisão não é apenas uma questão individual, mas algo enraizado em fatores culturais e espirituais que moldaram nossa visão sobre nós mesmos e o mundo.
A sobrecarga de peso que o sistema tem exercido sobre a humanidade, somado com o fato de que nenhum de nós (no fundo) sabe o motivo pelo qual estamos fazendo isso, tende a nos levar à revolta e a reagir com resistência àquilo que mais nos incomoda.
Por isso que tem nascido cada vez mais ideologias, que nada mais são do que formas de justificarmos a verdade individual e coletiva.
Então, se a nossa relação com a verdade se limita ao jogo compensatório dos prazeres e dores, tudo indica que a nossa energia sexual estará sendo utilizada para manifestar uma realidade que se adeque a isso.
Sexo enquanto ato
A subversão do sexo enquanto ato não apenas limita o potencial de realização dos indivíduos, como também podem influenciar no potencial de realização das gerações futuras.
Vamos analisar no contexto da vontade x satisfação.
Os princípios da filosofia OutSense mostram que vontade e satisfação são funções de nível superior, duas engrenagens que trabalham juntas para manifestar a realidade de cada um e tornar tudo o que existe real.
Cada um desses elementos — vontade e satisfação — possui uma dialética inferior, que no caso da vontade, é o medo e a coragem, e no caso da satisfação, é o prazer e a dor, conforme na imagem abaixo.
Quando a subversão do sexo ocorre, o indivíduo se prende aos níveis inferiores.
Sua capacidade de resposta (responsabilidade) passa a se limitar em ciclos de prazer e dor, movidos por uma vontade mais instintiva, estimulada pelo campo emocional do indivíduo e por escolhas impulsivas.
A todo momento sentimos uma emoção diferente.
Na minha visão, raiva, tristeza, alegria e medo são as 4 emoções básicas do “ser selvagem”.
Um ser selvagem pode ser compreendido como uma figura que age predominantemente movida por instintos, necessidades básicas e reações emocionais primárias, sem a mediação da razão ou da consciência.
Tais emoções são a base para a sobrevivência de todo ser vivo, afinal, estão diretamente relacionadas ao mecanismo de resposta instintiva (sobrevivência e reprodução).
Eu sempre digo que a emoção pode libertar ou aprisionar o ser humano.
Emoções não podem ser controladas, mas podem ser sentidas e interpretadas.
Há momentos em que sentimos no corpo o poder das nossas emoções. Já em outros momentos nossas emoções se manifestam apenas como micro expressões ou padrões naturais e inconscientes.
O ponto é que nossas emoções se manifestam a todo momento.
Então, o que esperar de um mundo onde a insegurança, a injustiça e a ameaça iminente modulam a frequência que manifesta a realidade?
O que esperar de um indivíduo que age como um ser selvagem, enquanto se põe em uma guerra (individual e coletiva) causada em nome da liberdade?
E quando a busca pela liberdade é conduzida por um conflito e não harmonia entre o progresso e a conservação?
O que acontece quando os seres dotados de autoconsciência são guiados por discursos e comportamentos fabricados, que fogem à natureza?
A palavra libertinagem deriva do latim libertinus, que se refere ao “escravo libertado” ou alguém que gozava de liberdade, e posteriormente evoluiu para designar comportamentos desvinculados de regras ou moralidade rígidas.
Assim, de modo geral, a libertinagem pode ser entendida como o uso desenfreado da liberdade, particularmente em relação a padrões morais e sociais.
A história que nós nos contamos nos tornou suscetíveis a um padrão de aprisionamento mental sutil. Ainda somos escravos, mas em um nível que não conseguimos mais distinguir, devido ao padrão vicioso que estamos inseridos.
O vício nos leva a uma falsa liberdade.
Gozar da falsa liberdade é o que fazemos em nossas vidas parciais.
Só há liberdade quando há fluxo e a forma como estamos vivendo está mais para um refluxo. É como se estivéssemos constantemente nadando contra a maré.
Por isso, se algo te pressiona, te gera conflito, ou incômodo interior, busque sentir e compreender onde está a barreira, o refluxo.
Observe o incômodo a nível de ciência (o que você conhece), senciência (o que você sente).
Ao perceber isso, e sentir aquela sensação de epifania, você já estará em processo de liberação do fluxo. Esse processo se repete.
Cada etapa equilibrada faz parte do seu processo de ascensão. É um caminho sem volta.
Então, eu reforço: enquanto o padrão vicioso modelar o fluxo que manifesta nossa realidade, mais resistiremos a esse fluxo (refluxo), e mais conturbadas serão as nossas vidas.
É como aquilo que foi dito por Platão sobre o demiurgo.
Os sistemas individual e coletivo, nesse sentido, parecem funcionar assim.
Fluxo e refluxo são o movimento dual entre o caos e a ordem que o demiurgo, no pensamento platônico, tenta organizar e criar formas a partir da energia primordial.
Essa transformação, no entanto, pode gerar um sistema que, ao modelar a realidade com base em padrões fixos, impõe barreiras que limitam o fluxo natural das coisas, criando a sensação de resistência e conflito.
Vícios e virtudes nada mais são do que a maneira como conduzimos esse fluxo.
Como vimos, quando nos desconectamos da Vontade Superior nos prendemos nos ciclos de prazer e dor, exacerbando as emoções básicas do “ser selvagem” e limitando o potencial consciente.
O ser selvagem pertence ao plano inferior, e quanto mais agimos como selvagens, mais estamos “presos aqui dentro”.
A palavra vício vem do latim “vitium”, e significa “defeito”, “falha” ou “imperfeição” e deriva da raiz proto-indo-europeia “*weik-“, indicando “curvatura” ou “deflexão” (desvio da posição natural).
Já virtude vem do latim “virtus”, derivado de “vir”, significando “homem” ou “força masculina”. Está relacionada à raiz proto-indo-europeia “*wer-“, indicando “força” ou “poder”.
A natureza de tudo é o movimento.
Movimento é força e essa é a conduta que empodera o ser.
Lá em cima, falamos de como a compreensão humana sobre o sexo opera, desde os tempos mais remotos, em um padrão vicioso.
Nesse padrão, a conduta de empoderamento do ser, passa a ser corrompida e gera distúrbios psicológicos relacionados à vontade de cada um.
Ao ser confrontada com a moral, a vontade se manifesta em questões como traição, crimes passionais e, não só isso, crimes graves, que chocam a sociedade envolvendo o ato sexual.
Quando o indivíduo submete a energia do sexo ao puro jogo de prazer e dor para manifestar sua realidade, ele está gerando o caos que o demiurgo (controladores do mundo, por exemplo), utiliza para criar as chamadas “novas eras” ou “novas ordens mundiais”.
E ao fazer isso, ele não está apenas servindo de bateria, como também está rompendo com sua natureza e adaptando o seu ser, a nível espiritual e físico, para se tornar mais receptivo a essa condição (viciosa) que perpetua a tragédia mundana.
Nessa condição, a sociedade tende a uma percepção coletiva excessivamente materialista-espiritualista, vivendo a ilusão da vida civilizada, mas adotando comportamentos que se parecem muito com a selvageria.
Como vimos anteriormente, isso acontece até em aspectos inatos do ser, como a busca pela verdade.
Por exemplo, você já notou como pessoas fanáticas são instáveis e tendem a acreditar em informações contraditórias?
Já notou quando são facilmente levados ao extremo quando “brincamos” com suas emoções?
Seres viciados, utilizam a energia sexual de uma maneira que não conseguem mais sentir os efeitos dela em suas vidas.
É um padrão natural do vício se adaptar à substância (tolerância) e ser levado a aumentar as doses para além das recomendadas. Por isso a violência, a fofoca e a pornografia são tão interessantes.
O viciado age por puro instinto de preservar a sua vida, não para existir, mas para continuar existindo sob o efeito da droga.
Quanto mais presos aos padrões que estimulam excessivamente nossas emoções básicas, mais agiremos como seres selvagens.
Se isso soa estranho para você, observe como a narrativa oficial tenta empurrar a verdade de que nossa natureza é selvagem.
Estamos sendo convencidos disso a todo momento.
A palavra “selvagem” evoluiu de um conceito relacionado à natureza para ser usada com uma conotação mais ampla, que remete à falta de civilização ou à resistência à cultura e à ordem estabelecidas.
Percebe como é sutil? Consegue sentir e entender como a percepção individual e coletiva sobre o sexo pode mudar as coisas?
Importante ressaltar que não é errado viver como um selvagem, mas se você quer viver isso ou quiser ser civilizado, em ambos os casos, será necessário a liberação de fluxos.
Você só terá liberdade em suas escolhas, se desbloquear fluxos.
A influência da energia sexual sobre a realidade
Como vimos anteriormente, a energia sexual, como força criadora e transformadora, transcende a interpretação comum e carnal, atuando como o motor que manifesta e molda a realidade.
Esta energia não é apenas a base do ato físico, mas também um princípio metafísico que conecta os opostos – vontade e satisfação – para gerar movimento, transformação e existência.
Quando compreendida em sua totalidade, a energia sexual revela seu papel central na interação entre o ser humano, suas emoções e a condição espiritual-física da manifestação.
Contudo, ao ser subvertida e direcionada exclusivamente para ciclos de prazer e dor, essa força é reduzida a impulsos instintivos, aprisionando os indivíduos nas emoções básicas de um “ser selvagem”.
Essa desconexão com a Vontade Superior limita o potencial de transcendência e os confina a um estado de sobrevivência emocional, dominado por vícios e conflitos internos.
A sociedade moderna exacerba essa subversão ao transformar a energia sexual em uma ferramenta para geração de estímulos emocionais intensificados.
Tal condição cria padrões viciosos que perpetuam a ilusão de liberdade, mas que, na prática, servem para moldar indivíduos ao interesse de forças externas.
A falsa liberdade gerada por essa dinâmica impede que o fluxo natural da energia sexual seja experimentado plenamente, resultando em uma realidade de refluxo, marcada por resistência e conflito.
No plano individual, a energia sexual influencia diretamente a percepção, a consciência e o potencial criativo da realização.
Quando guiada pelo “ser selvagem”, sua força é desviada de seu propósito superior, gerando desequilíbrios emocionais e psicológicos que desencadeiam em todo o ser.
Esses desequilíbrios, por sua vez, criam realidades caóticas que afetam tanto o indivíduo quanto o coletivo.
Tais realidades caóticas tendem a ser “organizadas” por aqueles que controlam o mundo.
Por outro lado, quando integrada à consciência, a energia sexual se torna um veículo para a ascensão, permitindo que o ser humano transcenda os ciclos viciosos e atinja um estado de harmonia e fluxo realizador.
No contexto coletivo, o padrão vicioso dominante evidencia uma sociedade que perdeu sua conexão com a essência da energia sexual como força criadora.
Acredito que haja um equilíbrio maior nisso tudo, que não é uma questão de “tudo está perdido”.
Considerar tudo como causa perdida é uma condição perceptiva individual, daqueles que estão viciados.
Mas podemos nos ajustar, enquanto indivíduos, à frequência desse equilíbrio maior.
Podemos agir como demiurgos organizadores do caos coletivo, para a manifestação de uma realidade pessoal mais elevada.
Essa desconexão que a sociedade vive também compromete o futuro, influenciando o campo de memória que conceberá as próximas gerações, que estarão cada vez mais pré-dispostas a viverem sob os mesmos padrões distorcidos.
Assim como estamos cada vez mais suscetíveis às doenças físicas e mentais do mundo moderno, a forma como lidamos com a energia sexual também segue o mesmo padrão.
Lembre-se: a verdadeira liberdade só pode ser exercida quando nos tornamos alquimistas da energia sexual.
E para que alcancemos isso, precisamos compreender a dinâmica da manifestação (vontade x satisfação).
Como eu disse, assim como o demiurgo organiza o caos para criar formas, o ser pode utilizar o caos gerado por si mesmo para manifestar realidades superiores, alinhadas com sua natureza.
Espero que essas informações tenham sido úteis.
Até a próxima!
Luiz, do Fora de Senso.