Recentemente, abri uma caixa de perguntas em uma rede social com a seguinte questão:
“Qual é a maior dificuldade/desafio que você enfrenta hoje?”
Dentre as respostas, uma se tornou um diálogo que pode nos mostrar um bom exemplo de como o respeito e a responsabilidade podem colocar a nossa vida no caminho de um propósito autentico.
O seguidor respondeu à caixinha da seguinte forma:
“Forças de ser diferente e ficar em paz.”
No mundo moderno, cada vez mais pessoas se veem diante de um desafio fundamental: manter sua autenticidade enquanto buscam a liberdade.
Em um cenário onde a pressão social e o julgamento alheio são quase onipresentes, encontrar equilíbrio pode parecer uma tarefa complicada.
Meu intuito com essa caixinha foi trazer um pouco da minha experiência pessoal para tentar despertar novos significados e percepções.
Vejo que essa resposta do seguidor ressoa com a realidade de outros que me procuraram recentemente por enfrentarem o mesmo dilema entre ser quem são e se manter em harmonia em um ambiente que, muitas vezes, os julga.
Na pergunta do seguidor, eu respondi:
“Eu não sou muito diferentão, mas tenho minhas peculiaridades. Uma coisa que eu entendi é que a minha dificuldade de lidar com o julgamento alheio parte muito mais do julgamento que eu escondo sobre mim mesmo do que do julgamento das pessoas em si. O julgamento sempre vai existir, seja ele positivo ou negativo. Estamos no mundo do ego, e o ego é um mecanismo de julgamento. É necessário se expor ao próprio julgamento. Tudo que fazem comigo só acontece porque eu estou receptivo àquilo de alguma forma. Quando nos expomos aos nossos próprios julgamentos, passamos a nos aceitar mais, e isso é projetado para fora. Com o equilíbrio estabelecido, você ficará em paz.”
Baseado nessa resposta, quero reforçar uma questão:
Muitas vezes, a forma como percebemos os julgamentos externos está enraizada em como nos julgamos internamente.
O processo de autocrítica, muitas vezes inconsciente, faz com que o julgamento externo ressoe de maneira mais intensa e pessoal.
Ao entender que o ego, por sua natureza, funciona como um mecanismo de comparação e julgamento, é possível perceber que o primeiro passo para lidar com os julgamentos alheios é observar e aceitar os próprios.
Se expor aos próprios julgamentos envolve olhar para as próprias imperfeições, inseguranças e falhas com respeito, transformando-os em oportunidades de crescimento.
Olhar para si com respeito é sentir e interpretar o que eu (ego) sinto em relação a tal coisa, e como as pessoas ao meu redor pensam disso.
Isso permitirá que você estabeleça a consciência sobre o padrão de espelhamento que está projetando a sua realidade e como isso interage internamente.
Leia sobre respeito e responsabildiade aqui.
Quando nos aceitamos por completo, tanto com as virtudes quanto com as falhas, passamos a projetar um equilíbrio e uma segurança que reverberam no mundo ao nosso redor, criando uma espécie de blindagem emocional.
É uma jornada que envolve coragem, pois se colocar frente a frente com o próprio eu, sem filtros, não é fácil.
Em busca da autenticidade
Para Martin Heidegger, a autenticidade (Eigentlichkeit) é um conceito central em sua filosofia existencial.
Para ele, a autenticidade refere-se à capacidade do ser humano de viver de maneira genuína e fiel à sua própria existência, em contraste com a inautenticidade, que seria viver de forma alienada e conforme as expectativas externas da sociedade.
Heidegger argumenta que o ser humano, que ele chama de Dasein (ser-aí), tem a tendência de se perder nas convenções e no cotidiano impessoal do “se” (das Man), onde as ações e decisões são moldadas pela norma coletiva.
Nesse estado inautêntico, o Dasein não vive segundo suas próprias possibilidades, mas sim de acordo com o que é socialmente aceito ou esperado.
A autenticidade surge quando o indivíduo reconhece a sua finitude e toma posse de sua existência, encarando a angústia (Angst) que acompanha a percepção da própria mortalidade e da possibilidade de escolha.
Essa angústia é importante porque revela ao Dasein a sua liberdade de transcender as normas e escolher seu próprio caminho.
Portanto, ser autêntico, para Heidegger, é reconhecer a própria liberdade e responsabilidade de moldar a vida de maneira que seja verdadeira para si mesmo, assumindo as escolhas de forma consciente e integral.
Esse conceito desafia o indivíduo a se afastar da conformidade e a ouvir a “voz da consciência” interna, que chama para a singularidade e a realização pessoal.
Assim, a autenticidade, para Heidegger, está ligada à aceitação da própria existência, com todas as suas limitações e possibilidades, e ao esforço contínuo de viver de maneira coerente com essa compreensão.
A visão de Heidegger converge para o que eu busco transmitir aqui no projeto.
Quando se estabelece um propósito pautado em uma percepção clara dos padrões universais, ou seja, daquilo que é possível sentir, saber e presenciar naquilo que se manifesta em todas as coisas (princípios herméticos, p. ex.) é possível simplificar a relação que estabelecemos com as coisas.
Em outras palavras, a nossa interação com o mundo fica mais clara, “enxuta” e, portanto, verdadeira.
Nesse sentido, lá na resposta que enviei ao seguidor, quando eu disse que “tudo que fazem comigo só acontece porque eu estou receptivo àquilo de alguma forma”, quis destacar que quando um indivíduo está em paz com seus próprios julgamentos, ele não alimenta as energias da crítica e reprovação externas, mas sim de aceitação e harmonia.
Isso tem tudo a ver com o que Heidegger disse.
Percebi esse padrão se manifestar ontem quando estava com amigos e soltei uma piada que ninguém riu, e ainda zoaram de mim.
Havia tempos que eu não ficava tão sem graça…
Mas pensa só: o fato de eu soltar uma piada é uma resposta de nível inferior (provocar a emoção alegria) para contemplar a necessidade de pertencer àquele grupo, ou criar empatia.
Agora observe como essa “autocritica” que tenho de mim mesmo me possibilita ter uma percepção mais ampla sobre a minha conduta naquele momento.
Para mim, isso significa muita coisa que vai muito além do constrangimento da piada sem graça ou de uma necessidade de pertencimento.
O simples fato de eu ficar sem graça já revela que eu não estava em paz, seja pelo efeito do alcool, pela aleatoriedade do role ou por questões internas que eu só pude reconhecer porque eu incorporei isso à minha consciência.
Quando a gente está em equilíbrio, nós temos mais tranquilidade em lidar com as reações do mundo.
Provavelmente se eu estivesse em equilíbrio naquele momento, eu teria resultados diferentes em minha empreitada social.
Naquele momento, mesmo sob efeitos de alcool, eu senti e interpretei o que eu estava vivendo.
Eu senti aquele constrangimento com tanta verdade, que foi como se algo para além da embriaguez estivesse assistindo àquilo com total lucidez.
E aí, atrelado a esse diálogo que tive com o seguidor, pude reafirmar que a chave para viver em paz em um mundo movido pelo ego é encontrar esse equilíbrio entre a aceitação de si mesmo e a consciência de que os julgamentos externos são apenas espelhos dos julgamentos internos.
Dessa forma, ao trabalhar o próprio campo emocional e mental, você estabelece uma presença que ressoa com mais autenticidade e força.Propósito superior e equilíbrio
Continuando a conversa com o seguidor, ele me procurou novamente com um dilema mais específico:
“Irmão, me tira uma dúvida. Trabalho como DJ, mas hoje em dia tá bem chato se trabalhar com músicas modernas… Me sinto fomentando algo maligno.”
A pergunta do seguidor vai muito além da questão moral e estética da música e se aprofunda nas reflexões que tivemos até aqui.
Quando somos guiados por propósitos de nível inferior (espirituais x materiais), a nossa vida se torna complexa e isso provoca uma profunda divergência entre os padrões universais que guiam a nossa manifestação (nos trouxe à vida), e os padrões mentais que conduzem a nossa existência (ser).
Para trazer isso ao contexto da pergunta, precisaremos chegar na abstração total do que a música significa e buscarmos compreender o impacto que essas experiências têm na nossa realidade a nível de frequência e energia.
Na resposta, busquei conectar elementos de autopercepção, dialética e consciência que já compartilho aqui no canal, incluíndo os conceitos de responsabilidade e respeito.
Essa foi a minha resposta completa:
Irmão, não sei se você viu o que falei recentemente nos stories sobre drogas e, em outra ocasião, sobre as emoções.
A música tem o mesmo efeito; é uma questão de usar ou ser usado, entre vício e virtude. Também há a questão da frequência necessária para a sua realidade, ou seja, se a frequência daquilo que você está ouvindo está compatível com a sua qualidade de ser.
A sensação de estar fomentando algo maligno se relaciona com isso. O maligno não é uma entidade separada ou algo pertencente a uma elite oculta; na verdade, essa “elite oculta” é a elite do nosso próprio ser, que, na raiz, se manifesta por um ponto de caos e ordem.
É importante que você busque um significado para essa sensação, porque ela pode te expor a questões fundamentais sobre a sua natureza.
O simples fato de você chamar algo de maligno traz um sentido interior, pois o que você está fazendo, na verdade, é espelhar algo interno em uma ação externa. Então, minha sugestão é que você procure entender a sua relação com o maligno e busque integrar essa percepção — consciência, ciência e senciência (o que eu presencio, o que eu sei e o que eu sinto).
Assim, você encontrará o caminho para ressignificar o seu trabalho, seus mecanismos internos de inspiração e criação, e sua relação com o público.
Agora vamos descrinchar essa resposta:
“Não sei se você viu o que falei recentemente nos stories sobre drogas e, em outra ocasião, sobre as emoções.”
Na ocasião em que falei sobre emoções, foi quando escrevi esse artigo.
Sobre as drogas, mencionei que elas são ‘hacks’ que permitem realizar capacidades inatas, mas adormecidas, que considero fundamentais para satisfazer nossas vontades materiais e espirituais.
Para entender melhor essa questão das drogas e a relação disso com as emoções, é necessário perceber que há um nível superior que é a dialética entre vontade e satisfação, que sintetiza a realização; e um nível inferior, material e espiritual, onde se manifestam a coragem e o medo (vontade) e a dor e o prazer (satisfação).
Se nosso estado de consciência está em um nível superior, essas capacidades inatas que citei anteriormente se manifestam naturalmente, sem a necessidade de substâncias.
Isso significa o seguinte: se você entende, sente e presencia (percepção) que tudo que acontece na sua vida se resume à Satisfação de uma Vontade Superior, você transcende as dialéticas inferiores (dor e prazer, dor e coragem).
Transcender as dialéticas inferiores significa entender o processo, a jornada, independente da realidade que estamos vivendo.
Isso implica em uma vida pautada na neutralidade da consciência.
Quando o estado de consciência está em um nível inferior, o “ser” tende a se prender nas questões mentais, ou seja, utilizamos nossa consciência e alma apenas para buscar compensar prazer e dor (ganho e perda, parcialidade).
A consciência tende à neutralidade e a mente é parcial;
Entenda o princípio da neutralidade aqui.
Vícios e virtudes
No nível superior, encontramos virtude; no nível inferior, vício.
Na Antiguidade, especialmente em contextos como o da Roma antiga e das filosofias gregas, a virtude referia-se à excelência de caráter e comportamento, sendo uma característica necessária para a realização pessoal e para a vida em sociedade.
Em grego, o termo equivalente é areté, que também denota excelência e a capacidade de agir de acordo com o melhor de si em qualquer situação.
Virtude aqui, nada mais é do que a face subjetiva da responsabilidade.
Agir responsavelmente, ou seja, ter capacidade de responder à realidade sem criar barreiras, manifesta o seu potencial de realização e isso permite a transcendência do seu “ser” a um ideal de si mesmo, ou seja o “Ser” (com S maiúsculo).
Já o vício refere-se a qualquer tipo de imperfeição ou corrupção, tanto moral quanto física.
No pensamento moral e filosófico, especialmente na tradição aristotélica e na escolástica, o “vício” é visto como o oposto da “virtude”, sendo uma disposição que afasta o indivíduo da excelência e do equilíbrio.Na resposta ao seguidor eu disse:
A música tem o mesmo efeito; é uma questão de usar ou ser usado, entre vício e virtude. Também há a questão da frequência necessária para a sua realidade, ou seja, se a frequência daquilo que você está ouvindo está compatível com a sua qualidade de ser.
Esse trecho tem profunda relação com autenticidade e propósito, e não só isso, com respeito e responsabilidade.
A realidade que está se manifestando ao seguidor, ou seja, a necessidade de tocar músicas que o despertam a sensação de fomentar o maligno, é impulsionada pela sensação de que ele está alimentando algo que não condiz com a sua verdade interior.
A frequência do trabalho não está compatível com a energia do propósito que ele carrega dentro de si. O mesmo acontece com um professor de história que não acredita na história oficial, mas que se vê obrigado a fazer isso por questões relacionadas ao que Heidegger chamou de “inautenticidade”.
Como eu disse:
A sensação de estar fomentando algo maligno se relaciona com isso. O maligno não é uma entidade separada ou algo pertencente a uma elite oculta; na verdade, essa “elite oculta” é a elite do nosso próprio ser, que, na raiz, se manifesta por um ponto de caos e ordem.
Quando o que está dentro não é compatível com o que está fora, o que está fora se torna oposição e o indivíduo entra em uma profunda angústia (ou Angst, como chamou Heiddeger) que, na minha visão, coloca o indivíduo em um estado de estresse, agitação, preocupação.
Isso limita a capacidade de resposta, e (a) ou coloca em um estado “automático” em que ele passa a fazer as coisas por fazer (trazendo uma sensação de ausência de propósito) ou (b) o coloca em um estado de ações dispersas, sem muito sentido e movidas puramente por impulsos emocionais.
Nesse contexto, o maligno poderia representar uma parte de nós mesmos que ainda está em conflito, em desequilíbrio, ou na sombra, operando em um padrão artificial daquilo que pertence à “elite do nosso ser”, ou seja, funcionando em uma espécie de padrão distorcido da dualidade entre o caos e a ordem.
Se a nossa energia (qualidade do nosso ser) não está compatível as nossas ações tangíveis e sensações que elas provocam, isso não está satisfazendo (satisfação x vontade) o nosso “propósito maior”, ou seja, com o propósito baseado em princípios universais.
Por isso, na minha resposta eu disse:
É importante que você busque um significado para essa sensação, porque ela pode te expor a questões fundamentais sobre a sua natureza.
Perceba também que para determinar algo como malígno, estamos deslocados da neutralidade, e em oposição numa perspectiva “benigna”. Esse é o maior indicativo do que eu falei no parágrafo anterior.
Ser autêntico e com propósito
Quando percebemos a nossa condição inferior, abrimos as portas para transcender à condição superior e isso acontece porque nos tornamos responsaveis em relação aos limites do nosso poder, ou seja, do que está em nosso campo de possibilidades de realização.
Na conversa com o seguidor, sugeri então que ele explorasse o significado dessa percepção:
O simples fato de você chamar algo de maligno traz um sentido interior, pois o que você está fazendo, na verdade, é espelhar algo interno em uma ação externa. Então, minha sugestão é que você procure entender a sua relação com o maligno e busque integrar essa percepção — consciência, ciência e senciência (o que eu presencio, o que eu sei e o que eu sinto).
Essa conversa fortalece a importancia de perceber o nosso ponto de equilíbrio e dar um sentido de propósito em nossas vidas.
Isso nos permite compreender até onde podemos ir, quais são os nossos limites e ressignificar o que estamos fazendo, desejando e o que realmente está nos satisfazendo.
Reconhecendo e incorporando isso à consciência, nos tornamos responsáveis, ou seja, capazes de responder à realidade (tudo que se manifesta ao nosso redor), entramos no caminho da virtude e passamos a viver uma vida mais autêntica.
Recentemente, mencionei que é interessante observar o que está se manifestando ao nosso redor e tentar compreender a relação de espelhamento com o nosso interior, o que reforça a questão sobre o que carregamos internamente não estar alinhado com o que se manifesta externamente.
É nesse momento que precisamos tomar a iniciativa de ressignificar e buscar equilíbrio, e é assim que vemos como os conceitos de responsabilidade e respeito podem ser transformadores.
Aceitar e trabalhar com nossos próprios julgamentos, entender o que projetamos em nossas criações e naqulo que construímos e integrá-las em nossa essência é um caminho para viver em liberdade.
A busca pela autenticidade e pelo propósito é, em essência, uma jornada de retorno ao que somos em nossa plenitude: um ser que conhece, sente e presencia a totalidade.
É na coragem de enfrentar nossos próprios julgamentos e no desafio de ressignificar o que nos prende às dialéticas inferiores, que encontramos o equilíbrio necessário para transcender as sombras internas e ascender à iluminação.
Mergulhar com consciência em nossos vícios e assumir a responsabilidade pelo impacto que causamos no tecido da nossa realidade é entrar na rota da virtude.
É nessa integração que reside a verdadeira liberdade, pois ela nos permite viver não como peças do acaso, mas como agentes conscientes do processo de ascensão.
Na minha vida, eu decidi viver com base no propósito de ascender reduzindo-a a duas causas: priorizar a mim mesmo, antes de tudo, e em segundo lugar, construir o legado da minha família enquanto agentes de transformação e expansão dentro do equilíbrio.
Minha vida está tão simples, que o meu nível de responsabilidade tem me permitido ser livre para realizar tudo que é necessário para o estágio que estou vivendo nesse processo chamado vida.
Eu intenciono o equilíbrio, e o equilíbrio se estabelece.
Trouxe você até aqui, para te mostrar que a energia que modulamos em nós, reflete a energia que se materializa e espiritualiza ao nosso redor.
É isso que nutre e transforma a realidade.
Ter um propósito que converge para as leis universais e colocar a intenção de viver essa verdade no cotidiano é o melhor caminho para ter o poder de realizar e experimentar aquilo que faça sentido para essa jornada com maior autenticidade.
Espero que essas informações tenham sido úteis.
Até a próxima!
Luiz do FdS.